tag:blogger.com,1999:blog-4198585567873601082024-03-14T00:48:12.497-03:00HixtóriasRMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.comBlogger9125tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-35678160794924738432008-11-09T04:05:00.000-02:002008-11-09T04:06:09.292-02:00Saudade de vocêA distância é uma lente<br />que amplia a saudade.<br />É na distância que percebo<br />quanto a saudade de você é pura,<br />é cristalina, é exata e tem a minha forma.<br />Eu a visto quando você parte.<br />E fico assim, nu. <br />Envolto apenas pela nuance de sua presença.<br />A sua saudade.RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-23324927647145761332008-10-25T10:30:00.000-02:002008-10-25T10:32:22.604-02:00embriaguezcaído bêbado recebi<br />fata morgana em seus dedos de vinho<br />me envenenando de prazer submisso<br />- quem é a mais bela?<br />- você<br />menti a mais pura verdade<br />por que não?RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-42779899739184691622008-10-20T07:15:00.002-02:002008-10-29T18:56:28.873-02:00a lua na sarjetaregressava trôpego<br />o caminho sempre igual<br />- tique de bêbado -<br />e a noite se arrastava<div>com a lua na sarjeta</div>RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-23178164207010141712008-10-18T08:09:00.002-03:002008-10-18T08:25:05.046-03:00A mais bela garota da cidadeEla era a garota mais bela da cidade.<br />Tinha um particular modo de ver a vida<br />como se a vida pudesse ser vista de um modo particular.<br />Talvez por isso tanto a desprezassem e tanto a amassem,<br />afinal era ela a garota mais bela da cidade.<br />Não porque escondesse seus verdes olhos em covas profundas, negras e etílicas,<br />mas porque vivia e viver não é permitido<br />quando se é a mais bela garota da cidade.<br />De pequena estatura, realçava uma cristal fragilidade de que muitos se serviram,<br />sem saber que era ela quem se servia.<br />Nada mais normal para aquela que era a garota mais bela da cidade.<br />Corrompida por hábitos e vícios,<br />tornou-se decadente e genial, marginal e única,<br />com a pureza bizarra só de quem é bela -<br />a mais bela garota da cidade.<br />E bela estava quando foi retalhada e morta,<br />abandonada no ermo da cidade, como se só assim existisse.<br />Triste fim para nós que permanecemos mais feios.<br />Morreu como só morre a mais bela garota da cidade.RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-48616122537298796372008-10-17T09:56:00.000-03:002008-10-17T10:56:24.570-03:00O gatoEquilibrado na cerca, estático, o gato observa<br />aquele que invadiu seu domínio.<br />O lixão mais gordo do melhor beco da cidade.<br />Eriçado, arrisca um confronto e recebe uma lata como resposta.<br />Já não bastasse tudo mais, ele agora quer também suas próprias sobras.<br />Vendo-o revirar o latão até o fundo e sentindo o estômago doer, reclamou:<br />Espero ao menos que ainda os ratos me sobrem.RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-75211135067754854612008-10-16T15:00:00.000-03:002008-10-16T21:30:20.143-03:00Cães e gatos.Estava parado a minha frente, com aquele jeitinho redondo de se portar. Fiquei irritado.<br />- Ei.<br />- O que é desta vez? - acendendo um cigarro só para ver a fumaça subir.<br />- Desculpe pelo que sou. Te incomodo e não quero. - baixando a cabeça e ajeitando a camisa fina.<br />Joguei a ponta para longe, olhando a noite. Meu Deus, até quando? Não além de agora. Acabou. Caminhamos.<br />- Vamos para casa? A pé se quiser. - sorrindo olhinhos de criança. Desejo verdadeiro, puro. Fiquei mais irritado ainda.<br />- Lá não fico mais. Ainda te mato. - louco de vontade nunca tê-lo visto, que desaparecesse.<br />Chegamos. Fui direto apanhar meus pertences, queria sair de vez logo. Senti perfume no ar e ouvia música. Nunca deveria ter voltado. Tremi.<br />- Não faça isso comigo! - gritei atordoado, tarde demais. Ela já estava lá, deitada no sofá. Sorriso lânguido na penumbra envenenada de música e desejo.<br />Minha cabeça girava de medo e excitação. Possuí-a embriagado, desnudo pela volúpia de seus lábios queimando.<br />Lá fora um cão uivou, levantei e saí. Havia pego um gato e morto. Deixei-o lá para nunca mais. Cães e gatos não deveriam existir no mundo das paixões. Para nunca mais.RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-12454506144784320732008-10-14T16:11:00.000-03:002008-10-14T17:11:34.780-03:00nunca foitudo tinha de ser tão simples<br /><br />uma sala com fogo num tempo frio<br /> uma pele pálida num rosto sombriluminado<br /> e o saciar duma fome ressentida<br /><br />eu queria tão simplesmente você<br />nada podia ser tão simples<br /><br />e nunca foiRMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-3693803373186216402008-10-12T11:48:00.002-03:002008-10-12T11:51:58.607-03:00patricinhaNHÁ PRETA DE PEITO CAÍDO<br />CARREGOU O FILHO NO PESCOÇO TODA A VIDA<br />TRABALHOU, SE FODEU E PARIU DE NOVO<br /><br />e você toda alegre e perfumadinha<br />sem ver um palmo diante do narizRMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-419858556787360108.post-55049258581979164042008-10-08T21:32:00.002-03:002008-10-10T18:40:18.483-03:00O janelão<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:verdana;"></span> <span style="font-family:verdana;">Mau chegou na Reitoria. Mesma hora de sempre, todo dia. Era aula e gostava. Havia colegas e dois amigos. Esqueceu disso quando entrou, cabeça baixa.</span><br /><span style="font-family:verdana;"><br /> - Filho, não pense assim teu pai. A vida passou dura nele. Não quis fazer aquilo.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Sei - Mau com os olhos longe.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Ele ama, duro mas ama. Faz errado, mas pensa fazer certo. Assim aprendeu.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Sei - indiferente.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Aceite isso. Você pode mudar, ele não. Assim aprendi.</span><br /><span style="font-family:verdana;"><br /> Subiu a rampa sem ver ninguém. Sentindo só. Bem longe dali, seu futuro. Correu pensando ir atrás.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;"> - Reaja, cara. Você dá pra coisa. Gosta disso.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Preciso ganhar a vida - Mau pensativo.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Não abandone. Você é o melhor de nós. Todos sabem disso.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Tenho família e compromissos.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Mas tem você?</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;"> "Mas tem você?" gritava o corredor quando passou, resfolegante. Encostou na parede para descansar. Viu o janelão.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;"> - Período e dedicação integral. Isso eu quero. Nada feito se não.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Sei - Mau olhando pé da mesa.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Tem chance ainda. Deixe escola para depois. Pode progredir aqui.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> - Sei - se vendo grisalho e bruto, tocando máquina como hoje. Como seu pai.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;"> "Mas tem você?", berrava agora o prédio todo. Lento foi ao janelão e abriu. Silêncio. Respirou ar. </span><br /><span style="font-family:verdana;"> Viu todos lá embaixo. Seus pais, seus amigos, seu patrão. E si próprio.</span><br /><span style="font-family:verdana;"> Primeiro passou uma perna. Depois outra. </span><br /><span style="font-family:verdana;"> "Nós temos você!", cantavam todos olhando para ele. Seu eu deu as costas e foi embora.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;"> - Não! - gritou quando voou, correndo atrás.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;"> Ninguém tem ninguém.</span><br /><span style="font-family:verdana;"></span></div>RMFilhohttp://www.blogger.com/profile/01738072533740395498noreply@blogger.com1